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Friday, September 21, 2007

SARTRE NA CITÉ UNIVERSITAIRE DE PARIS


Sartre volta à Cité Universitaire



Em 1971, Jean-Paul Sartre provocou grande frisson na Cité Universitaire em Paris. Participou de ato em favor da Palestina na Maison du Maroc. Estudantes de várias partes do mundo e residentes da cidade universitária acorreram ao evento, mobilizados pela solidariedade e curiosidade: apoiar e ver o filósofo do século XX de perto. Pequenino, estrábico e militante ativo. Junto com a companheira, Simone de Beauvoir, armara uma mesinha na entrada do auditório, local onde vendia ostensivamente o jornal La Cause du Peuple. Uma enorme emoção para quem só o conhecia através das fotos dos seus livros. E surpresa também. Aquele muito pequenino militante parecia ainda mais impressionante porque real. Minúsculo, pouco mais de metro e meio, e uma presença gigantesca e atordoante ao mesmo tempo. Próximo, respondendo pacientemente a perguntas triviais ao lado da banca improvisada (sim, estivera no Brasil, caipirinha, Celso Furtado, etc).Desconcertante quando falava diretamente, o olhar endereçado por cima do ombro do interlocutor, consequência exclusiva do seu forte estrabismo.


Lá estava o diretor do La Cause du Peuple assumindo as tarefas de intelectual engajado, militante e defensor da liberdade de expressão. Dispunha-se a exercer a direção do jornal para assegurar a sua continuidade de funcionamento. Emprestava o nome para evitar que as sucessivas prisões dos dois antecedentes diretores daquele periódico resultassem no seu fechamento definitivo.Quem prenderia Sartre? Naquele momento, assumira uma responsabilidade legal (dar o nome ao jornal), mas não a política de endossar as teses dos maoístas. O que viria a ocorrer gradualmente. Talvez ainda estivesse viva em sua memória a firme e emblemática recomendação, posta em cima da mesa, quando os estudantes lhe passaram a palavra em evento na Sorbonne de 68: senhor Sartre, seja breve.



Aos 66 anos, inquieto, retornava à Cidade Universitária onde estivera com Simone ainda bem jovem. Ali residira e se preparara para o disputado concurso ao cargo vitalício de professor do ensino secundário da escola pública. Pode-se imaginar, ainda hoje, uma grande quantidade de guimbas de Gauloises e o ambiente embaçado pela fumaça. Não é difícil sentir o ar azedo, o odor acre do seu quarto, as janelas fechadas, na Maison Deutsh de la Meurthe.


Mas, no auditório da Maison du Maroc, estavam o primeiro colocado e a segunda na prova de seleção de 1929, e o inconfundível cheiro de tabaco; agora discursando para outra geração. Aquela que ainda vivia o rescaldo de maio de 1968, quando se passou a adotar as moradas mistas na Cité Universitaire. E, inacreditável(!!!) os estudantes residentes não podiam mais deixar os sapatinhos e as botas nas portas dos quartos. As empregadas não os recolheriam para escová-los e engraxá-los diariamente, logo ao amanhecer. É provável que várias botas tenham voado pelas janelas no auge das agitações de 68. Ao menos assim contava, às gargalhadas, uma femme de ménage portuguesa esperta e muito falante, na Maison de Norvège .



A palestra foi um acontecimento. Auditório lotado. Estudantes de todos os cantos do mundo: sotaques os mais variados.Terminada a manif, discursos e panfletagens realizadas, dirigia-se Sartre a comer no restô (no bandejão mesmo ), em companhia de um intrometido garoto brasileiro que nunca vira ou de quem nunca ouvira falar, e cujo nome só conseguia pronunciar com um sotaque fortemente arrastado. Dizem alguns que, durante sua estada no Brasil, no início dos anos 60, o filósofo encantara-se com uma jovem pernambucana e lhe propusera casamento. No evento do bandejão nada fora possível apurar. Até aquela oportunidade, o seu jovem interlocutor, além de atordoado e faminto, jamais ouvira falar de Cristina Tavares. Só descobriria, bem mais tarde, que e o país ganhara uma combativa militante do MDB autêntico e corajosa deputada constituinte em 1988.


Portanto, que se resgate a verdade histórica: ao menos uma vez, Sartre retornou à Cité Universitaire com sua Simone, muitos anos depois de lá ter vivido. Agora então, para falar da Palestina,vender La Cause du Peuple, rangar no restô Sud, e, pacientemente, ouvir de um abobalhado brasileiro que ele parecia mais alto nos livros (nos retratos 3X4 das contracapas!! ) que ao vivo.



O virtual se sobrepunha ao real na imaginação daquele estudante?




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3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Tb estava lá!

11 December, 2007  
Anonymous Anonymous said...

Sartre e Cristina Tavares?
Que legal. Imagina se ela tivesse topado.

28 May, 2008  
Anonymous Cláudio Menezes said...

Grande Arthur,

Bem lembrada a militância de Sartre ("L´enfer sont les autres") e da saudosa Deputada pernambucana Cristina Tavares. Abraço enorme para você e feliz 2011. Cláudio

05 January, 2011  

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