TECNOLOGIA CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO
O reconhecimento da importância da atividade de inovação está na raiz de diversos estudos recentes sobre níveis de intensidade tecnológica na indústria.Isso em virtude da expectativa de sua contribuição para o crescimento econômico. A OECD - Organisation for Economic Co-operation and Development - patrocinou estudo que constitui referência para as análises comparativas sobre esforços empreendidos no domínio da inovação e seus impactos na economia. No Brasil, iniciativas patrocinados por instituições da comunidade empresarial e acadêmica se somam às ações empreendidas no âmbito do IBGE e utilizam classificações de nível de atividade tecnológica em suas análises.
Mas, afinal, qual sua utilidade e o que mostram esses estudos?
A taxionomia do nível de intensidade tecnológica aplicada na Pesquisa Industrial Anual (PIA Empresa/ IBGE) apontou para os seguintes principais resultados. Grosso modo, o setor de (a) alta intensidade tecnológica reúne as seguintes principais áreas industriais: equipamentos de transporte, equipamentos médico-hospitalares, eletrônicos, e de comunicações além de outras máquinas e equipamentos. Já o setor de (b) média / alta intensidade congrega os produtos farmacêuticos, produtos de fumo, químicos, celulose, outras pastas para fabricação de papel, peças para acessórios de veículos. Nas indústrias que compõem o segmento de alta intensidade tecnológica, a razão entre gastos com Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) / Receita Líquida de Vendas se situa em 1.31 %. No segmento de média / alta intensidade tecnológica a relação cai para 0,63. Na outra
extremidade, baixa intensidade tecnológica, a relação mergulha para 0.21% . Na pesquisa supra citada e representativa de 137 mil empresas, os setores de(a) alta e(b) média / alta intensidade tecnológica respondiam juntos por cerca de 18% da quantidade de empresas e 26% do total de pessoas empregadas. No outro extremo, os setores de baixa e média / baixa intensidade tecnológica, reunindo 82% da quantidade de empresas, respondiam por 74% do pessoal empregado. A pesquisa mostrou também que quase metade do pessoal empregado na indústria do país trabalha no segmento de baixa intensidade tecnológica e responde pela produção de valor adicionado quase equivalente ao produzido pelos trabalhadores do setor da alta tecnologia (onde atuam apenas 15% do pessoal empregado na indústria). Mostrou, ainda, que a produtividade do trabalho, ou seja, o valor da transformação industrial dividido pela quantidade de pessoal empregado é, em média, três vezes superior no setor de alta tecnologia. Produz mais valor com menos gente.
Da mesma forma que a taxionomia da intensidade tecnológica pode merecer eventuais reparos metodológicos, igualmente cuidadosa deve ser a sua aplicação em análises de estratégias de desenvolvimento. Afinal, (alta, média / alta, média baixa, baixa intensidade tecnológicas) não são categorias historicamente representativas do mesmo tipo de indústria, em variados países, economias e épocas. Auxiliam a traçar um retrato, mas não possibilitam compreender a dinâmica do processo histórico de suas construções. Isso significa dizer que políticas orientadas para a busca de eventuais simetrias com os perfis de economias e sociedades, ditas desenvolvidas, podem induzir a equívocos desastrosos. As tentativas de replicar estruturas produtivas, à imagem e semelhança das "economias modelo", podem representar
frustrante aventura. E a crescente contestação do modelo neoliberal reflete a rejeição desse caminho.
Portanto,os cuidados devem ser multiplicados.Os rankings devem ser relativizados. Isso não deve significar um pacto com a mediocridade, o imobilismo ou o atraso. Ao contrário, urge construir novos caminhos e novas métricas, que também contribuam para compreender e modificar a dinâmica, o sentido e as prioridades do desenvolvimento. Anos de estagnação econômica das décadas perdidas transformaram crescimento econômico em pauta arrojada. Crescimento e desenvolvimento são fenômenos distintos. Implicam em políticas públicas diferenciadas. Em ambas, entretanto, o conhecimento tecnológico desempenha papel essencial. A questão é saber construí-lo para poder usá – lo adequadamente, de acordo com as necessidades do desenvolvimento do país.E não apenas subir algumas posições num ranking discutível.
Arthur Pereira Nunes
Publicado no Caderno de Educação. FOLHA DIRIDIDA em13 3/2007
Mas, afinal, qual sua utilidade e o que mostram esses estudos?
A taxionomia do nível de intensidade tecnológica aplicada na Pesquisa Industrial Anual (PIA Empresa/ IBGE) apontou para os seguintes principais resultados. Grosso modo, o setor de (a) alta intensidade tecnológica reúne as seguintes principais áreas industriais: equipamentos de transporte, equipamentos médico-hospitalares, eletrônicos, e de comunicações além de outras máquinas e equipamentos. Já o setor de (b) média / alta intensidade congrega os produtos farmacêuticos, produtos de fumo, químicos, celulose, outras pastas para fabricação de papel, peças para acessórios de veículos. Nas indústrias que compõem o segmento de alta intensidade tecnológica, a razão entre gastos com Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) / Receita Líquida de Vendas se situa em 1.31 %. No segmento de média / alta intensidade tecnológica a relação cai para 0,63. Na outra
extremidade, baixa intensidade tecnológica, a relação mergulha para 0.21% . Na pesquisa supra citada e representativa de 137 mil empresas, os setores de(a) alta e(b) média / alta intensidade tecnológica respondiam juntos por cerca de 18% da quantidade de empresas e 26% do total de pessoas empregadas. No outro extremo, os setores de baixa e média / baixa intensidade tecnológica, reunindo 82% da quantidade de empresas, respondiam por 74% do pessoal empregado. A pesquisa mostrou também que quase metade do pessoal empregado na indústria do país trabalha no segmento de baixa intensidade tecnológica e responde pela produção de valor adicionado quase equivalente ao produzido pelos trabalhadores do setor da alta tecnologia (onde atuam apenas 15% do pessoal empregado na indústria). Mostrou, ainda, que a produtividade do trabalho, ou seja, o valor da transformação industrial dividido pela quantidade de pessoal empregado é, em média, três vezes superior no setor de alta tecnologia. Produz mais valor com menos gente.
Da mesma forma que a taxionomia da intensidade tecnológica pode merecer eventuais reparos metodológicos, igualmente cuidadosa deve ser a sua aplicação em análises de estratégias de desenvolvimento. Afinal, (alta, média / alta, média baixa, baixa intensidade tecnológicas) não são categorias historicamente representativas do mesmo tipo de indústria, em variados países, economias e épocas. Auxiliam a traçar um retrato, mas não possibilitam compreender a dinâmica do processo histórico de suas construções. Isso significa dizer que políticas orientadas para a busca de eventuais simetrias com os perfis de economias e sociedades, ditas desenvolvidas, podem induzir a equívocos desastrosos. As tentativas de replicar estruturas produtivas, à imagem e semelhança das "economias modelo", podem representar
frustrante aventura. E a crescente contestação do modelo neoliberal reflete a rejeição desse caminho.
Portanto,os cuidados devem ser multiplicados.Os rankings devem ser relativizados. Isso não deve significar um pacto com a mediocridade, o imobilismo ou o atraso. Ao contrário, urge construir novos caminhos e novas métricas, que também contribuam para compreender e modificar a dinâmica, o sentido e as prioridades do desenvolvimento. Anos de estagnação econômica das décadas perdidas transformaram crescimento econômico em pauta arrojada. Crescimento e desenvolvimento são fenômenos distintos. Implicam em políticas públicas diferenciadas. Em ambas, entretanto, o conhecimento tecnológico desempenha papel essencial. A questão é saber construí-lo para poder usá – lo adequadamente, de acordo com as necessidades do desenvolvimento do país.E não apenas subir algumas posições num ranking discutível.
Arthur Pereira Nunes
Publicado no Caderno de Educação. FOLHA DIRIDIDA em13 3/2007
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